Empreendedorismo feminino ganha espaço na construção civil tocantinense

DIA A DIA

No Tocantins 40,3% dos pequenos negócios são geridos por mulheres

Laiane Vilanova

Aos 29 anos, Karoline Francisca Barbosa Abreu é um bom exemplo quando o assunto é empreendedorismo feminino no Tocantins. Dona de uma empresa de gerenciamento de obras em Palmas, Karoline resolveu apostar em um setor que era tradicionalmente dominado por homens. Com habilidades empreendedoras que se mostraram já na infância, a jovem lembra que sua maior inspiração para os negócios foi a avó.

“Muito disso veio de ver minha avó atendendo, vendendo, cobrando, visitando pessoas. Ela é uma das minhas referências de venda e o empreendedorismo foi algo muito natural, pois não é sobre ter um negócio, mas sim uma atitude. Mesmo nas empresas onde trabalhei, eu empreendia dando o meu melhor, mas sempre sonhando em ter um negócio próprio”, conta a empresária.

E não foram poucas as tentativas de Karoline no mundo dos negócios. Assim como boa parte dos empreendedores, ela tentou outros modelos de negócio antes da empresa de gerenciamento de obras. A jovem foi artesã, dona de brechós por duas vezes e dona de bar.

Determinada a tirar o sonho de empreender do papel, em 2019 Karoline começou a sua jornada por conhecimentos que segundo ela, a faculdade não entregava. “Conheci o ecossistema de startup aqui no estado, participei de dos eventos de inovação e empreendedorismo do Sebrae, conheci movimentos lindos de apoio às minorias, como a Artemísia e tive acesso a editais que apoiavam negócios criados por mulheres pretas”.

O conhecimento adquirido pela empresária a ajudou a quebrar alguns tabus sobre empreender e ainda em 2019, a jovem conseguiu abrir a empresa, superando suas próprias expectativas. “Eu achava que só teria um negócio na área da construção civil após os 40, pois não via mulheres à frente desse tipo de negócio. Como eu já tinha um chão de 10 anos de experiência na área, coragem não me faltou e foi vivenciando o dia a dia que eu fui rompendo várias objeções que a sociedade me colocava”, relembra Karoline.

As mulheres também fazem parte da equipe de trabalho da empresa de Karoline que atualmente conta com seis pessoas, entre mulheres e homens, todos profissionais da engenharia.

Empresas como a de Karoline têm crescido no Estado e se tornado protagonistas na geração de novos postos de empregos. Em janeiro de 2024, no Tocantins, de acordo com um estudo feito pelo Sebrae, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged), as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 82,58% das novas contratações no primeiro mês deste ano e os setores que mais geraram empregos estão concentrados na construção de edifícios, clubes sociais esportivos e restaurantes.

Setor de Serviços

No Tocantins, o setor de Serviços foi o que liderou a criação de empregos entre as micro e pequenas empresas, ainda de acordo com o levantamento do Sebrae, ofertando um total de 623 novas vagas em janeiro deste ano.

Foi acreditando no mercado de serviços que outra jovem mulher resolveu arriscar e partir para o empreendedorismo. Jornalista e atuando na comunicação em mídias sociais, Maysa Krasuski deixou o emprego, no qual era contratada como CLT, ainda em 2019 para prestar serviços em comunicação para outras empresas de Palmas. Apesar de reconhecida pelo trabalho que fazia, a jovem não se via mais na área da comunicação e, aos 27 anos, resolveu que seria hora de fazer uma transição de carreira.

“Foi uma escolha bem difícil, porque eu não queria ter que passar por todo o processo de aprendizado até chegar ao patamar que eu estava na minha carreira anterior. Mas, ao mesmo tempo, eu não me via mais fazendo o que fazia. Foi em uma sessão de terapia, quando a psicóloga me disse que eu precisava criar coragem e ir atrás do que eu queria, que decidi pelo design de interiores”, conta Maysa.

Maysa Krasuski se manteve no setor de serviços, mas dessa vez na criação de projetos de interiores. Tendo se mudado recentemente para Minas Gerais, a designer de interiores investiu na prestação de serviço on-line e tem conquistado clientes dentro e fora do país. E apesar das dificuldades de empreender, voltar para o mercado formal não é mais uma opção para ela.

“Desde que trabalhei no meu último emprego CLT, nunca mais pensei em voltar. O empreendedorismo, apesar de muito perrengue, me dá a liberdade que eu sempre busquei. Acredito muito e invisto em empresas com liderança feminina sempre, faço questão de comprar de mulheres e contratar mulheres”.

Empreendedorismo Feminino

O número de negócios dirigidos por mulheres é quase metade do total de negócios no Tocantins. De acordo com o Sebrae, 40,3% dos 131.353 pequenos negócios existentes no Estado são comandados por mulheres, um total 52.935 empreendedoras. A analista do Sebrae, Sirlene Martins, explica que, apesar de a mulher estar se desenvolvendo tanto pessoal quanto profissionalmente, o cuidado com os filhos ainda é um dos motivos que leva as mulheres a abrirem seus empreendimentos. “As mulheres buscam uma renda extra para o sustento, ao mesmo tempo que querem ter mais tempo para cuidar dos filhos”, disse.

A analista ainda destaca que o Sebrae pode ajudar nesse processo de profissionalização para mulheres que estejam começando o seu negócio. “Apoiamos em todas as etapas, desde a identificação do comportamento empreendedor, construção de um plano de negócio e continuamos também apoiando no desenvolvimento da empresa, como, por exemplo, a mudança do presencial para o digital”, concluiu.

Futuro

Se depender dessas duas jovens empreendedoras, os negócios liderados por mulheres vão longe e alinhados a práticas inovadoras, como planeja a Karoline Francisca. “Estamos migrando para atuar como BPO de obras, trazendo soluções alinhadas a práticas norteadas por sustentabilidade, responsabilidade social e transparência. Eu espero muito crescimento saudável e sustentável, aprendizado e acesso a experiências que transformem a vida de quem usufrui deste ambiente de trabalho e também dessas prestações de serviço”.

Atualmente com 29 anos, a designer de interiores Maysa Krasuski também pretende levar seu negócio mais longe. “Vou reestruturar meu escritório, agora em Minas Gerais, e atuar no ramo da arquitetura comercial, que é o que mais gosto de trabalhar”, finalizou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *